Doença renal e perda de visão em pacientes com diabetes
O diabetes mellitus é uma condição crônica caracterizada por níveis elevados de açúcar no sangue, que pode causar doença renal e diversos problemas de visão, incluindo a cegueira.1,2
Segundo o atlas do diabetes da Federação Internacional do Diabetes (IDF), em 2021 o Brasil ocupava a sexta posição global entre os países com maior incidência de diabetes, contabilizando mais de 15 milhões de adultos entre 20 e 79 anos.1 Embora muitos desses pacientes não reconheçam a gravidade do diabetes e subestimem a importância de seu tratamento, é preciso reforçar que, mesmo que a doença não cause muitos sintomas nos primeiros anos, cerca de 9% das mortes mundiais são atribuídas a essa condição e suas complicações, tais como:2
- doença renal;
- perda da visão (cegueira);
- perda auditiva;
- perda de sensibilidade nas extremidades;
- doenças vasculares;
- derrame ou acidente vascular cerebral (AVC);
- infarto;
- perda ou complicações gestacionais.
Como o diabetes danifica os rins?
Os danos do diabetes aos rins surgem lentamente, conforme a doença progride, e ocorrem porque o excesso de açúcar no sangue lesiona os pequenos vasos que irrigam esse órgão.3 Assim, como a doença renal do diabetes é assintomática, ou seja, não causa sintomas, muitos pacientes só descobrem que estão doentes após anos do diagnóstico de diabetes ao apresentarem algumas complicações, como anemia, desnutrição, redução da frequência urinária e outras alterações metabólicas. Prova disso é que, atualmente, cerca de 30% dos pacientes que fazem hemodiálise têm o diabetes como principal causa da doença renal.4
Quais doenças de visão o diabetes pode causar?
Da mesma forma que ocorre com os rins, as doenças de visão causadas pelo diabetes costumam não provocar sintomas nas fases iniciais. Por isso, muitos pacientes só descobrem essa perda visual quando a condição já está em estágios mais avançados.2
Para se ter uma ideia, estima-se que, após 20 anos de doença, quase todos os pacientes com diabetes tipo 1 e 60% dos pacientes com diabetes tipo 2 vão apresentar alguma lesão na retina. Dentre elas, destaca-se a retinopatia diabética, principal causa de cegueira adquirida na vida adulta. A retinopatia diabética reduz a acuidade visual, que é a capacidade de enxergar com nitidez, e causa embaçamento visual em apenas dez anos após o paciente ser diagnosticado com diabetes.5
Estima-se também que metade das pessoas com retinopatia diabética tenha edema macular diabético, uma condição caracterizada pelo extravasamento de líquido na região da mácula (onde a imagem se forma) devido aos danos gerados pelo excesso de açúcar nos pequenos vasos. Como consequência, tem-se um edema (inchaço) local que torna a visão embaçada ou escura.2
Como evitar os danos do diabetes à visão e aos rins
De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento do diabetes com medicações e mudanças de estilo de vida permite reduzir em 58% o desenvolvimento de doenças da visão e em 61% os problemas renais.5 Além disso, é preciso monitorar regularmente as principais complicações dessa doença. Assim, para os pacientes com diabetes tipo 1, o rastreamento com oftalmologista é recomendado para adultos após completar 5 anos de diagnóstico e, para crianças com mais de 11 anos de idade, em pelo menos 2 a 5 anos após o diagnóstico da condição. Já nos pacientes com diabetes tipo 2, o rastreamento deve ser iniciado no momento do diagnóstico.6 Esse monitoramento deve ser feito anualmente, sendo que o médico poderá aumentar a frequência das avaliações conforme cada caso.5 Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o rastreamento das doenças oftalmológicas causadas pelo diabetes deve incluir um exame de mapeamento da retina e uma biomicroscopia de fundo de olho, ambos realizados durante a consulta com o especialista.6
Já em relação ao rastreamento da doença renal, a recomendação é que o primeiro exame de rastreio seja feito logo após o diagnóstico do diabetes tipo 2 e, em pessoas com diabetes tipo 1, após 5 anos do diagnóstico (a partir dos 11 anos de idade).7 Esse acompanhamento pode ser feito pelo médico através de exames de sangue e urina que, se estiverem normais, também devem ser repetidos anualmente.5
Portanto, além de manter um acompanhamento médico regular, o paciente com diabetes deve participar ativamente do seu tratamento, questionando o médico sobre as possíveis complicações da doença e sobre os exames necessários para avaliação de risco dessas condições renais e na visão.
Para lembrar
- O diabetes pode causar complicações crônicas diversas e graves, que afetam os rins e a visão, entre outros.
- As complicações do diabetes, como a doença renal do diabetes e a retinopatia diabética, podem ser prevenidas e tratadas se identificadas precocemente.
- É importante que qualquer pessoa com diabetes conheça os riscos da doença e os possíveis problemas que ela pode provocar ao longo da vida para assumir, assim, o controle de sua própria saúde.
Leia também: Entenda como a retinopatia diabética pode afetar a visão
Referências:
International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas 2021 – 10th edition [internet]. Acesso em 13 de maio de 2024.
Castro RMF, Silva AMN, Silva AKS, et al. Diabetes mellitus e suas complicações - uma revisão sistemática e informativa. Brazilian Journal of Health Review. 2021;4(1):3349-91.
National Kidney Foundation. Diabetes e insuficiência renal crônica [internet]. Acesso em 07 de maio de 2024.
Lopes JA, Ferreira MC, Otoni A, et al. Is screening for chronic kidney disease in patients with diabetes mellitus being properly conducted in primary care? J Bras Nefrol. 2022;44(4):498-504.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus [internet]. 2013. Acesso em 07 de maio de 2024.
Malerbi F, Andrade R, Morales P, Travassos S. Manejo da retinopatia diabética. Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes – Edição 2023. Acesso em 07 de maio de 2024.
- Sá JR, Canani LH, Rangel EB, et al. Doença renal do diabetes. Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes – Edição 2023. Acesso em 07 de maio de 2024.
Este material é de natureza informativa e não substitui a avaliação médica individualizada.
PP-UN-CAR-BR-0176-1 JUNHO 2024
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